Falando de fotografia

Uma paixão que nasce em cada individuo
Eliel Rezende  |  26/02/2018
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Ter crescido na área rural me transformou no fotógrafo que eu sou. Fiz o curso primário numa escola que ficava a seis quilômetros da minha casa. Esse caminhar até o colégio todos os dias de manhã foi determinante como lugar de experiência e da minha construção como pessoa, nos meus sentidos e sensibilidade. Esse caminhar me despertou a atenção para as pequenas coisas.

Quando surgiu a fotografia para você?

Eu sou portador desse vírus de procurar sempre um sentido no que eu faço. Qual é a sua missão na Terra? . A fotografia foi uma espécie de válvula de escape desde muito tempo na minha vida, lembro me que começei a fotografar aos 12 anos de idade, uma espécie de mediação de mim para comigo mesmo e entre mim e o mundo. Encontrei uma maneira de me expressar.

Qualquer pessoa com uma câmera é fotografo?

Depende do que você chama de fotógrafo. Tem o artista, o que segue por profissão, entre outros. Num sentido amplo, esse olhar fotográfico não passa necessariamente pelo processo de pegar uma câmera e fotografar. Muita gente tem esse olhar crítico e sensível e não produz imagens.

O jovem pode pensar em viver de fotografia no Brasil? Está mais fácil ser fotógrafo?

Eu acho que é mais difícil. É mais fácil produzir imagens, quantitativamente falando. Hoje tem-se o equipamento e, tirando o investimento dos dispositivos de base, não se tem um custo operacional, como o de filme e revelação. Então, tem muita gente fotografando. Não necessariamente a foto é autoral. Nem sempre um bom autor tem fotografias que emplacam e criam impacto. Não é mais fácil ser fotógrafo, hoje, pelo volume de produção de imagens, nas várias áreas: fotojornalismo, fotos de publicidade e fotos de moda.

A fotografia é um ato político?

Em si, sozinha, não. Mas ela pode ser uma boa ferramenta, como linguagem. Quem se apropria da fotografia pode se posicionar politicamente. A questão é do agente, do protagonismo, e de quem abraça isso como carreira e como via de comunicação. A fotografia potencialmente tem esse lugar.

Se alguem perguntasse a você se ele é fotógrafo, qual seria a sua resposta?

Eu diria que ele é um fotógrafo em potencial. Acredito que o fotógrafo é quem se apropria da linguagem fotográfica e se expressa por meio dela, mesmo que para si. É um exercício humano, de sensibilidade. A fotografia é uma fala, uma linguagem. A pessoa pode, ao mesmo tempo, bater um papo com você na mesa de bar e escrever poesia. Se você começa a trabalhar de maneira pensada, organizando e constituindo um percurso, uma memória, como num diário de bordo, entendo que tenha o direito de se considerar fotógrafo, mesmo sendo totalmente anônimo. Fotógrafo é quem se expressa pela fotografia.


 

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