PASSANDO A NOITE EM CLARO
Por Eriberto Henrique
Procuro os versos que se esconderam de mim.
Procuro as notas de uma canção que ousei compor, em minhas próprias ilusões.
Procuro os sonhos que já sonhei,
E as estrelas caídas que um dia eu vi no quintal.
Muitos pensamentos se cruzam na mente.
Ideias se perdem nas esquinas,
Olhando a vida silenciosamente mudar de contraste,
Olhando a vida mudar de configuração,
Mudar de razão,
Como os versos perdidos,
Que precisam ser reescritos pelo poeta.
O quieto poeta,
Catando retalhos em meio as imagens.
Ah se a vida fosse justa!
Mas será que ela não é justa o bastante?
Quem somos nós para falar de justiça,
Quando no fundo assumimos o papel da promotoria em nossos próprios julgamentos?
Passando noites em claro,
Virando de um lado para o outro da cama,
Brigando com nossos travesseiros,
Para acordar pela manhã e seguir em frente,
Mesmo com dores no corpo e os ombros cansados.
Ah se a vida fosse justa!
Talvez eu não estivesse aqui procurando versos,
Talvez essas palavras não fizessem tanto sentido quanto fazem agora,
Porque uma dor sentida nunca é assimilada no momento,
Porque uma árvore demora o tempo preciso para dar frutos,
E um poeta precisa de poesia para viver.
Talvez eu não esteja procurando nada,
Talvez eu esteja apenas olhando a rua, para passar o tempo;
Seguindo o curso do rio,
Com meu casaco surrado e minhas mãos nos bolsos,
Chutando pequenas pedras no chão, como um menino que já cresceu,
Carregando os pesados sonhos de criança.