NA BEIRA DO ASFALTO
Por Eriberto Henrique
Já fiz tanta coisa em tão pouco tempo,
E ao mesmo tempo fiz tão pouco em tantos anos;
Minha bandeira branca está ensopada de sangue!
O sangue de muitos como eu,
Que morreram por essa luta
Onde nossa derrota é certa.
Mas porque lutamos por uma causa perdida?
Porque damos a vida pelos nossos inimigos?
Será que somos tão loucos quanto pensamos?
Ou será nossa vitória é menos importante?
Um guerreiro de verdade nasce para lutar,
Ganhar ou perder não importa,
Pois a causa sempre será mais importante,
E a bandeira que flameja sozinha
Na multidão que caminha ao contrário.
A cobaia que morre em cativeiro
Arrancando espinhos de uma coroa ressecada.
Não é o fruto que importa,
Mas sim as sementes que ele deixa jogadas como lixo,
Que devem germinar em solos ainda férteis,
Daqueles que também morreram em combate.
Do outro lado o asfalto ferve,
Em dias de sol onde o pão é ainda mais suado,
Levado nas enchentes que arrastam ilusões.
E assim em um quarto pequeno de uma caixa com andares,
Um trabalhador marginalizado,
Esquece suas frustrações em um copo de coragem líquida,
Trabalhando seu poema distorcido,
Retrato e uma sociedade torta.
E antes que meu silêncio fale mais do que eu,
Eu grito!
Sou poeta!
Com letra maiúscula e tudo mais.
Que luta com amor por essa causa perdida,
Enrolado em sua bandeira branca,
Totalmente ensopada de sangue.
Com os pés descalços na beira do asfalto
E tantas dores que na carne se faz,
Esquecendo suas frustrações em copo de coragem líquida,
Trabalhando seu poema distorcido,
Retrato de uma sociedade torta!
Eriberto Henrique