Chegou a hora de conversar sobre Bullying
Principalmente quando este é a causa do suicídio, outro assunto que também é preciso dialogarO Bullying é um termo inglês, derivado da palavra bully, que significa em português: tirano, brigão ou valentão, aquele que usa de superioridade para intimidar alguém. Para uma atitude ser denominada bullying é preciso que seja intencional, repetitivo e violenta, contra uma pessoa indefesa e que irá causar danos emocionais, psicológicos ou físicos.
Segundo a terapeuta e coach familiar Valéria Ribeiro, existem várias formas de bullying: físico, emocional, sexual, psicológico, moral, material e virtual. "A violência do bullying quase sempre vem mascarada em forma de brincadeira. Normalmente, é realizado por uma ou mais pessoas que escolhem um indivíduo para ser a vítima. Essa vítima que é agredida não consegue se defender. Além de que, os agressores induzem a opinião de outros colegas através de mentiras, boatos e apelidos que acabam intensificando o ato. Isso vai minando cada vez mais a autoestima da vítima, tornando ela incapaz de se defender e se proteger", explica.
A vítima de bullying são pessoas consideradas frágeis, seja pela renda, orientação sexual, religião, origem, cor ou aparência. Pessoas tímidas ou com baixa autoestima também são alvos, assim como alunos que se destacam por coisas positivas, como beleza e boas notas.
"O bullying pode levar a evasão escolar, piora no rendimento escolar, dificuldades em se relacionar, depressão e até ao suicídio", comenta Valéria, listando ainda que crianças que sofrem bullying podem ter alguns sinais, como por exemplo:
Demonstra tristeza frequente ou chora constantemente;
Não é escolhida nas brincadeiras;
Não tem amigos;
Tem piora nas notas escolares;
Não se relaciona, sempre está sozinha;
Fica de cabeça baixa e com os ombros caídos;
Tem problemas para dormir;
Não se valoriza;
Não quer ir à escola;
Tem mudanças bruscas de humor;
Aparece com hematomas após a aula;
O material escolar some;
Passa a consumir álcool ou drogas.
O Bullying e a idade
A idade, segundo a terapeuta familiar, que mais se sofre ou prática o bullying é entre 11 a 13 anos, mas também há um número razoável por volta dos 15 anos. "De acordo com pesquisa, hoje pode se encontrar crianças que praticam ou sofrem bullying a partir dos 07 anos", expõe.
"A pessoa que pratica o bullying pode vir de família desestruturadas, ou seja, ele sofre o bullying dentro de casa e repete na rua. Também pode sofrer de baixa autoestima, por isso usa do papel de valentão para não demonstrar sua fragilidade. Já os que sofrem o bullying são crianças/adolescentes fisicamente mais fracas, cor, raça ou religião diferente, também pode ser de cultura diferente. Alunos bem-sucedidos na escola são outro perfil que sofrem (ex. Nerd). O diferente será o alvo do agressor. Esses, na sua quase totalidade, tendem a ter uma baixa autoestima", explica Valéria afirmando que o bullying físico é mais praticado pelos meninos, já as meninas se utilizam do bullying moral.
O Bullying no Brasil
Valéria explica que, no País, existe uma política, mas ela ainda não foi implementada em sua totalidade. "Em 2006 o Ministério da Saúde promulgou a Portaria 1.876/2006 que instituiu as Diretrizes Nacionais para a Prevenção do Suicídio e que deveriam ser implementadas em todos os estados brasileiros. Também nesse ano foi lançado o Manual para profissionais das equipes de saúde mental. Entretanto, somente no final de 2017, onze anos depois, foi instituído um Comitê Gestor para elaboração de um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio no Brasil (Portaria 3.479/2017). Também em 2017 foram selecionados 06 (seis) estados, com maior incidência de suicídio, para implementação de um projeto piloto, onde há aporte financeiro para desenvolvimento de projetos de promoção da saúde, vigilância e atenção integral à saúde direcionados para prevenção no âmbito da Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde (SUS)".
A coach confirma que desde 2015 o Ministério da Saúde estabeleceu parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), onde se prevê a gratuidade das ligações ao CVV em todo o território nacional, podendo perceber que ainda a participação do Estado nessa questão é embrionária.
Identificando os sinais
"90% dos casos de jovens que pensam em suicídio têm tratamento, o mais importante é que os pais estejam atentos às mudanças no comportamento dos filhos", alerta a especialista em terapia familiar e acrescenta alguns sinais que podem auxiliar os pais a perceberem se o filho tem tendência suicida, podendo assim evitar uma tragédia:
- Falta de interesse pelo próprio bem-estar;
- Alterações significativas na personalidade ou nos hábitos;
- Comportamento ansioso, agitado ou deprimido;
- Queda no rendimento escolar;
- Início ou aumento do uso de álcool e drogas;
- Afastamento da família e de amigos;
- Perda de interesse por atividades de que gostava;
- Perda ou ganho repentinos de peso;
- Mudança no padrão usual de sono;
- Comentários autodepreciativos recorrentes ou negativos e desesperançosos em relação ao futuro;
- Disforia (combinação de tristeza, irritabilidade e acessos de raiva);
- Comentários sobre morte, sobre pessoas que morreram e interesse pelo assunto;
- Doação de pertences que valorizava;
- Expressão clara ou velada de querer morrer ou de pôr fim à vida;
- Promiscuidade repentina ou aumentada;
- Tentativas de ficar em dia com pendências pessoais e de fazer as pazes com desafetos;
- Adolescentes perfeccionistas, com alto nível de cobrança, também precisam de atenção;
- Cobrança em excesso dos pais;
- Automutilação.
Valéria explica que existem também alguns fatores, que quando vividos pelos adolescentes ou jovens, podem aumentar os riscos para o suicídio:
- Problemas familiares;
- Falta de perspectiva na vida;
- Sensação de desamparo, impossibilidade de agir sobre os problemas;
- Bullying ou cyberbullying;
- Doença e dor excessiva;
- Pouca estrutura emocional no enfrentamento de problemas;
- Abuso físico ou emocional;
- Pressão frente as questões da vida (ex. vestibular).
"Cabe ressaltar que muitas crianças, adolescentes e jovens que se suicidam estavam com depressão, mas o grande fator que leva ao ato em si é a sensação de desesperança. Elas se sentem vazias, sozinhas e frustradas. Buscar ajuda de um profissional nestas ocasiões é muito importante, pois pode ser a resposta entre a vida e a morte desse jovem", comenta.
Há alguns jovens que também não aceitam ajuda, pois acreditam que assumir essa dor e como assumir que são fracos. "Isso acontece, normalmente, com jovens perfeccionistas ou aqueles que são excelentes alunos. Também podem não assumir pelo fato da doença já estar na família, ou seja, há outros membros na família com depressão (ex. mãe ou pai) e aí eles precisam ser fortes, pois já ouviram de outros que isso é fraqueza de cabeça. Nesse caso, eles irão levar a dor calados, não irão se expor e não pedirão ajuda. As mudanças de comportamentos serão mais sutis e os pais precisarão estar mais atentos e próximos para que o pior não aconteça", diz Ribeiro.
Segundo ela, o suicídio significa duas coisas: uma forma de escapar ou terminar com o sofrimento (dor) e, por outro lado, o de comunicar o sofrimento aos outros – um pedido de ajuda. Suicídio não é fraqueza e muito menos covardia, é um ato dramático de quem não vê saída para amenizar a dor que se sente.
Qual o papel da escola no combate ao suicídio?
"É importante que a escola defina estratégias de acolhimento dentro das ações que serão executadas. Abrir espaço para conversas com os alunos, mostrar que não há culpados, deixar que expressem seus sentimentos e que conversem sobre o processo de luto, que para alguns será novo. Se possível, a escola deve levar um profissional da psiquiatria ou psicologia que possa fazer esse trabalho com os adolescentes e jovens. Também é possível procurar o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) da cidade para se informar o que eles podem ajudar ou apoiar", explica.
"Falar sobre o suicídio é preciso. Porém, a fronteira entre informar e incentivar pode se mostrar tênue. O consenso entre os profissionais especializados é não reforçar métodos. Tirar a própria vida não tem nada de glamoroso. É o último passo rumo ao abismo de quem nunca encontrou socorro, tampouco conseguiu se ajudar", finaliza Ribeiro.
Serviço: Valeria Ribeiro
Terapeuta e Coach Familiar, especializada em Terapia Familiar Sistêmica e Fundadora do Filhosofia
(12) 99121-9615
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