REFLEXÃO: PARA QUE SERVE UM JORNAL?
Criação: João Bosco, Varilandes Júnior e Mateus Braga
Um jornal serve para servir. Servir principalmente a uma cidade. Um jornal, se for só papel, serve para cobrir o chão quando pintamos a casa ou embrulhar peixe no mercado.
Um jornal, se for só negócio, serve apenas para crescer em lucros, máquinas e construções.
Um jornal, se for mero símbolo, tradição e história, serve para discursos pomposos, mas ocos de compromisso com a vida. Um jornal-grife funciona só para o marketing ou propaganda de empresa líder de mercados. Mas o que faz um jornal servir é algo além da mercadoria ou da imagem que projeta. Um jornal não tem senhores, domínios, posses ou possessões. Um jornal serve quando não é escravo até do próprio sucesso. Então para que serve um jornal, mesmo? Um jornal serve para publicar o que se fala, refletir o que se publica, aprofundar o que se opina sobre o publicado e ampliar todas as opiniões sobre o dito e o refletido. Um jornal serve para servir ao seu eixo principal de credibilidade: o leitor. Um jornal serve para ir além da notícia quando busca suas relações, seu contexto, bastidores, as circunstâncias que geraram o fato e até avaliar as consequências. Um jornal serve para pensar. E ser pensado por gente livre. Um jornal não é administrado por máquinas servis. Um jornal serve quando desperta atitudes. Quando analisa os atos que sofre, mas também é ator nada passivo. Serve quando é veículo dos muitos meios, modos, culturas e linguagens componentes de uma sociedade.
Serve e é estimulante e rico quando abriga as contradições e com elas convive. E só estará vivo em intensa atividade se servir aos que o lêem e o sustentam. Um jornal serve quando não teme. Nem o conflito natural das divergências nem o confronto acintoso de quem tenta intimidá-lo. Um jornal serve quando se expõe até a equívocos, mas extrai lições e busca avançar não permitindo que a prudência se confunda com o medo. Um jornal serve como serviço público, que é a definição mais básica de imprensa como instituição. Um jornal serve para reagir, para admitir e apontar erros, para estabelecer as linhas de diálogo com as representações organizadas de uma sociedade. Serve também para o indivíduo que não adquiriu voz partidária, sindical ou até mesmo de classe tal a sua exclusão no convívio social. Um jornal serve para emocionar, dar prazer, informar por inúmeros suportes do fato além do texto, deleitar, entreter, indignar, comover e demonstrar que vive intensamente o seu tempo e a sua região. Um jornal não é só um amontoado de linhas, textos, fotos e traços. Um jornal serve quando se torna fundamental, preciso, precioso, indispensável para o que na verdade o mantém vivo: a credibilidade. Um jornal serve para reconhecer seus talentos e sua vocação maior de compromisso com seu serviço primordial: um jornal serve para servir!
Fonte: Correio Braziliense 1999.