Em Santos SP: Cetesb some e construção da cava subaquática continua sem explicação
Por Glauco Braga
Além de não informar onde está a Licença de Instalação (LI) que permitiu a Ultrafértil /Tiplam/ VLI construir uma cava subaquática em frente à Ilha das Cobras, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) não mandou nenhum representante para a audiência pública realizada na Câmara Municipal de Santos, que discutiu os perigos oferecidos pela obra.
O pouco caso da estatal deixa ainda mais perguntas sem resposta. como por exemplo: por que liberou a utilização de técnica já ultrapassada, ao invés de seguir as regras e cobrar a utilização de alternativa mais moderna e segura para o meio ambiente? A LI foi encontrada? Estava em São Paulo ou Cubatão? Onde está o documento?
A ilha é localizada entre o Canal de Piaçaguera e o Rio Cubatão, no interior do Estuário de Santos, em frente à região da Alemoa. Tudo começou em setembro quando a VLI iniciou a construção de uma cava subaquática no leito navegável para acondicionar 1,5 milhão de metros cúbicos de sedimentos contaminados dragados no Canal da Piaçaguera.
Até o momento, alguns veículos da região ignoravam os riscos da cava subaquática, mas diante do anúncio de investimentos de R$ 2 bilhões na Iha das Cobras para a construção do T-Green, os olhos de algumas pessoas começaram a brilhar e cava a saiu do fundo do canal e passou a virar matéria.
A reunião foi presidida pelo vereador Fabrício Cardoso, presidente da Comissão Especial de Vereadores, que investiga o caso, e contou com a participação de políticos da região, empresários do setor portuário, especialistas, integrantes de entidades ambientais e representantes da VLI – empresa responsável pela obra e dona do empreendimento.
Especialistas explicaram os perigos em confinar sedimentos altamente contaminados em uma cava subaquática. Eles destacaram ainda os riscos de possíveis vazamentos deste material durante o preenchimento e a dificuldade de monitoramento e, até mesmo, de contenções em caso de um futuro rompimento, situação que pode provocar a contaminação do estuário, prejudicando o Porto e também a balneabilidade das praias da região.
O mestre em engenharia urbana especializado em controle de poluição, professor Elio Lopes, apresentou detalhes do parecer técnico assinado por ele e pelo engenheiro Emílio Grande Gago, o biólogo Fábio Giordano e o oceanógrafo Paulo F. Garreta Harkot.
O documento demonstra que os sedimentos que serão dragados e posteriormente dispostos na cava possuem elevado nível de contaminação por metais pesados e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos, sendo que boa parte apresenta concentrações muito acima dos valores estabelecidos por resolução do Conama.
Lopes explicou ainda que desde os anos 80 a região já utiliza tecnologia superior para o confinamento destes sedimentos, lembrando ainda que a Cetesb por norma deveria permitir apenas a utilização da alternativa mais moderna e eficiente. Ao invés disso, permitiu o retrocesso, liberando uma alternativa ultrapassada, vantajosa apenas por ser a mais barata para quem realizada a obra.
Ele demonstrou ainda uma tabela com os resultados de análises comparativas entre alternativas de disposição de resíduos contaminados demonstrando que o tratamento desses seria a melhor e mais segura opção a ser implantada. “Ela (a cava) é apenas a mais baratinha. É coisa que os gatos fazem isso de longa data, que é fazer buraco e enterrar as coisas dentro. É muito mais rápido e barato”.
Os técnicos da VLI defenderam a obra, mas não explicaram com detalhes a opção por essa solução, já que existem outras mais avançadas e seguras para o meio ambiente. Eles disseram ainda que não existe nenhum projeto para a Ilha das Cobras.
Existe sim um projeto para o local com investimento de R$ 2 bilhões, por parte de um grupo árabe. Os investidores farão , inclusive, uma visita técnica na área esta sexta-feira.
O terminal portuário de granéis sólidos e líquidos que será instalado na Ilha das Cobras deve gerar cerca de 1.000 empregos na Baixada Santista. O T-Green foi projetado para se transformar na primeira instalação portuária do Brasil que será equipada para conquistar a Certificação internacional de Porto Verde.
Para conquistar seu objetivo, o terminal contará com painéis de geração de energia solar e reutilização de água da chuva; fontes de energia alternativa para as operações dos navios, evitando a queima dos combustíveis dos cargueiros; e acesso ferroviário, reduzindo assim o tráfego de caminhões carregados com grãos pela região. O objetivo é criar 1 mil vagas de emprego.
Em tempo: A Prefeitura de Santos mandou dois representantes. Um entrou mudo e saiu calado e o outro deixou muito clara sua preocupação apenas com os investimentos. O meio ambiente e a vida das pessoas não fizeram parte dos argumentos. A conferir.