Artigo: 31 de julho - Dia do Orgasmo
Não deixe que ela seja apenas uma data perdida no calendário!Falar de orgasmo ainda deixa a maioria das pessoas constrangidas, inseguras, cheias de dúvidas. “Afinal, o que é? Como se chega a ele? E se eu não conseguir?” Ai, ai, ai! Algo que deveria ser fonte de alegria e prazer acaba virando mais um motivo de angústia, ansiedade, baixa autoestima. Mas não precisa ser assim!
Por isso, neste 31 de julho, gostaria de dividir com vocês algumas informações importantes, para que o Dia do Orgasmo não seja apenas uma data perdida no calendário, mas uma experiência constante, vivida com leveza e cumplicidade pelo casal. E que traz, tanto para homens quanto para mulheres, inúmeros benefícios para a saúde, conforme indicam vários estudos científicos: melhoria do sistema cardiovascular e imunológico; regulação do sono; aumento da sensação de saciedade e consequente redução da fome; redução da tensão e da ansiedade etc. Além, é claro, de fazer muito bem ao relacionamento, aumentando o vínculo afetivo do casal.
Mas, o que é esse tal de orgasmo?
O orgasmo é o momento da relação que caracteriza-se pela liberação de vários hormônios:
- a endorfina, que causa a sensação de bem-estar;
- a dopamina, associada ao prazer; e
- a ocitocina, que age sobre o humor e reduz a ansiedade.
As pessoas normalmente usam expressões superlativas para definir essa sensação de completude que caracteriza o orgasmo: “uma explosão de prazer”, “o ápice da relação sexual”, e por aí vai. Por conta disso, muita gente se cobra uma performance de filme, com explosão de fogos de artifício e tudo o mais, e acaba se frustrando. O certo é que, para cada um, o orgasmo se manifesta de uma forma. E tudo bem!
Como fazer para “chega lá”?
Mulheres e homens agem - e reagem - de forma diferente quando o assunto é “chegar lá”. Normalmente, a ala feminina têm mais dificuldade, apesar de ser, por natureza, “multiorgástica”.
“Gente, Lelah, mas o que é isso?? Multiorgástica???” Calma! É a capacidade que a mulher tem de chegar ao orgasmo e permanecer nele, tendo vários picos de prazer. Os homens, por sua vez, geralmente têm apenas um orgasmo, quando ejaculam. Mas eles também podem ser multiorgásticos, através de práticas que consistem em segurar a ejaculação e, só após vários picos de prazer, eliminar o esperma.
Aí, voces me perguntam: “se a mulher é multiorgástica, porque justamente ela encontra mais dificuldade quando o assunto é atingir o orgasmo??” Há vários motivos para que isso aconteça. Alguns neurológicos e físicos - como a dispareunia (dores intensas durante o ato sexual) e o vaginismo (contração dos músculos da vagina que dificultam ou impedem a penetração). Mas, com certeza, o principal é cultural, resultado de uma criação que determina que o papel da mulher é conceber, e não sentir prazer. O sexo é visto como algo sujo, que diferencia a ‘mulher pra casar’ da ‘mulher só pra transar’. Sim, acreditem. Em pleno século XXI eu recebo em meu consultório mulheres profundamente afetadas por essa crença arcaica.
Para escapar dessa armadilha, são necessárias boas doses de autoconhecimento e a autoestima. Conhecer o próprio corpo e seu funcionamento. Observar-se. Tocar-se. Se a própria mulher não faz isso, como permitirá que outro a conheça, a observe, a toque? Se ela mesma não se ama, como aceitar o amor o outro? Vencida essa etapa - a mais difícil, e que muitas vezes exige apoio profissional de um terapeuta - o resto acaba sendo consequência: mais segurança e liberdade para experimentar, fantasiar, deixar “a coisa rolar”. E “chegar lá”.
Talvez por serem mais “econômicos” ao falarem de seus problemas com sexo (muitos por medo de comprometer sua “masculinidade)” os homens podem dar a impressão que não têm dúvidas e dificuldades quando o assunto é orgasmo. Engana-se porém, quem acha que a ala masculina está livre disso.
Antes de mais nada, não se pode confundir dificuldade de atingir o orgasmo com impotência - esta, caracterizada pela falta de ereção. Um homem pode ter ereção mas, ainda assim, não chegar ao orgasmo.
Quando se fala em dificuldade do homem de atingir o clímax em uma relação sexual, as causas podem ser diversas, tanto de ordem física, quanto psicológica. As principais são as deficiências hormonais (hipotireoidismo ou hipogonadismo); as lesões físicas ou neurológicas; o uso de antidepressivos; a ansiedade (muitas vezes associada à expectativa quanto ao próprio desempenho sexual), a depressão e o estresse. O melhor então, é recorrer a um especialista para identificar exatamente o que está causando o problema, e dar o devido tratamento à questão.
Embora os motivos físicos para não “chegar lá” estejam bastante presentes no caso masculino, muitas vezes eles são agravados pelo peso cultural (cobranças quanto à masculinidade, potência, desempenho) - o que pode resultar na negação do problema, e retardar a busca por ajuda especializada.
Final feliz
Como sexóloga e psicoterapeuta, digo pra vocês: não dá pra falar nesse “final feliz” numa relação sexual, se o que vem antes deixa a desejar. Se as preliminares não existem. Se não há sintonia entre os parceiros. Se corpos e mentes não estão saudáveis e envolvidos por completo nessa “dança”. Não. Não é só sobre sexo que estamos falando. Orgasmo é processo, não resultado.
Lelah Monteiro
>> Sobre a autora: sexóloga, psicanalista e fisioterapeuta. Atua em seu consultório em Perdizes (São Paulo, SP) como educadora sexual; terapeuta de casais, de família e sexual. Colunista e colaboradora de revistas, programas de rádio e TV com pautas relacionadas a comportamento, relacionamento, saúde, qualidade de vida e sexualidade. Atualmente comanda o quadro Sexpresso, todas as sextas-feiras, a partir das 13h, no programa Expresso Capital, na Rádio Capital AM.