J. VELLOSO E RECÔNCAVO EXPERIMENTAL – IÊ, SAUDADE
Por Thiago Winner: Compositor, poeta e escritorAssista: https://www.youtube.com/watch?v=vI1bR6Z45JY
O compositor, cantor e produtor musical J. Velloso e a banda Recôncavo Experimental, ambos de Santo Amaro, recentemente têm estreitado as relações e isso deu origem ao projeto J. Velloso e Recôncavo Experimental. Essa parceria já resultou no lançamento de “Vida Chula” e “Santo Antônio 2.0”, dois singles que propõe a intervenção de elementos sonoros da música contemporânea no samba chula da região, mais conhecido como samba de roda.
O próximo resultado dessa parceria entre J. Velloso e o Recôncavo Experimental é a música “Iê, Saudade”, composta por Gustavo Caribé (idealizador do Recôncavo Experimental) e J. Velloso. Essa canção, diferente dos outros lançamentos, não se baseia na clave tradicional do samba chula, mas sim em um sentimento melancólico ligado a saudade mais direcionada à cidade de Santo Amaro, onde todos envolvidos no projeto têm familiares e amigos, e, por causa da do isolamento social provocado pela pandemia do Corona Vírus, estão afastados.
O título da música vem da expressão “iê”, usada popularmente na capoeira. A música tem uma clave de percussão bem definida, inspirada em ritmos de candomblé, e soa como um mantra. É uma canção feita baseada nas recordações e sentimentos de tempos vividos em Santo Amaro, e cita festas e manifestações culturais da cidade.
Premiado pela 8ª Edição do Calendário das Artes 2020, promovido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), e a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), o clipe de “Iê, Saudade”, dirigido e produzido por Mirella Medeiros (produtora do projeto), é um plano sequência da viagem de carro de Salvador à Santo Amaro, desde a saída da garagem em Salvador até a chegada na frente da Igreja Matriz de Santo Amaro, localizada na praça central da cidade. No clipe, durante o percurso da viagem, lembranças vão se revelando à medida que versos da música vão sendo cantados.
Idealizada pelo baixista Gustavo Caribé, sobrinho de Roberto Mendes, a banda Recôncavo Experimental nasceu da ideia de experimentar a mistura das as diversas variantes musicais com a tradição do samba de roda, influenciado pelos mestres João do Boi, Alumínio, Roberto Mendes e Raimundo Sodré. Inovando a cada apresentação musical com diversas formações e arranjos que trazem uma combinação de todas essas vivências, o grupo tem como marca uma sonoridade legitimamente baiana, que traduz e fortalece a identidade musical brasileira. O grupo traz em sua bagagem novas texturas e distorções, dentro de um novo contexto na música popular brasileira, a partir da pesquisa e influência do comportamento musical do Recôncavo, em especial, de Santo Amaro. O “Recôncavo Experimental" é uma tradução moderna das chulas do Recôncavo da Bahia sem ferir a oralidade, que é a essência desse trabalho.
J. Velloso, por sua vez, é um compositor experiente em diversas áreas artísticas. Tem canções nas vozes de artistas como Maria Bethânia, Gal Costa, Daniela Mercury, Beth Carvalho, Gilberto Gil, Caetano Veloso entre outros. Como produtor musical, foi responsável por discos de artistas como “Diplomacia”, de Batatinha (contemplado com o Prêmio Sharp, em 1999), “Humanenochum”, de Riachão (indicado ao Prêmio Grammy, em 2002), ambos produzidos junto com o roqueiro e pesquisador Paquito. J. produziu também o disco de D. Edith do Prato e Vozes da Purificação, (contemplado com o Prêmio Tim de Música, em 2004) e “Abre Caminho” o primeiro disco de Mariene de Castro, vencedor do Prêmio Braskem de Música, em 2004 e do Prêmio TIM de Música, atual Prêmio da Música Brasileira, como o Melhor Disco Regional, em 2005. Ele possui três discos lançados (Aboio para um Rinoceronte, de 2004, J. Velloso e os Cavaleiros de Jorge, de 2009 e Não Sei Se Te Contei, de 2018) e um livro-CD (Santo Antônio e outros Cantos, de 2010). Foi também diretor artístico de shows como “Ela Disse-me Assim” de Gal Costa e “Canibália”, de Daniela Mercury em Cabo Verde. Atualmente, junto à Luciano Salvador Bahia, conduz um programa na rádio Educadora FM chamado “Feita na Bahia”, dedicado exclusivamente à evidenciar a diversidade musical baiana. Na recente parceria com o Recôncavo Experimental, Velloso agrega ao projeto sua voz, sua vasta experiencia artística e sua forma singular de compor, o que dá origem a um projeto irreverentemente fincado na tradição.