Sata andagui
Sata andagui
(Bolinho de chuva em dialeto de Okinawa, e como é conhecido em todo o Japão)
Hoje fui no supermercado fazer compras, como o faço toda folga, e havia uma pequena barraca vendendo produtos da ilha de Okinawa e, dentre os produtos, havia uma iguaria famosa da localidade, conhecida como sata andagui no Japão, conhecida como bolinho de chuva no Brasil. Comprei uma bandeijinha com meia duzia de unidades.
Chegando no meu “apertamento”, guardei os produtos na geladeira e no congelador e passei um café. Peguei uma xícara, enchi-o de café e sentei-me para apreciar essa famosa iguaria nipônica. Quando mordi o bolinho e senti as migalhas e o sabor do café no céu da boca, estremeci, com uma sensação de prazer que senti ser familiar.
Essa sensação me fez mergulhar em algumas velhas lembranças, ligados ao sabor do bolinho e do café. Senti-me de volta à Apucarana, no sítio onde morávamos, em uma manhã de chuva. Da janela da cozinha vi que caía uma chuva serena mas contínua. Minha mãe preparava-se para fazer algo e então perguntei:
- A senhora vai fazer o quê?
- Bolinhos de chuva.
Pegou os ingredientes necessários e começou a dizer em voz alta, como se estivesse me ensinando a receita.
- Dois ovos, meia xícara de açúcar, duas xícaras e meia de farinha, uma xícara de leite, uma colher de sobremesa de “pó royal” (fermento em pó), ou de bicarbonato de sódio, se não tiver fermento.
- Ah, e uma colher de sopa de “maizena” (amido de milho) pro bolinho ficar sequinho, disse sorrindo, como se estivesse me contando um segredo.
A minha mãe mexeu os ingredientes em um recipiente de vidro, e depois de esquentar bem o óleo, pegou uma colher de sopa e ia colocando os bolinhos para fritar.
- Tem que fritar até ficar douradinho!
Ela fritou toda a receita e depois de polvilhar açúcar e canela em pó, colocou uma xícara de café que havia acabado de passar.
- Toma o seu café da manhã, só deixe sobrar para as suas irmãs que ainda não acordaram.
Naqueles dias de minha infância, devia ter uns quatro anos, na inocência do meu conhecimento, o bolinho de chuva tinha esse nome porque a minha mãe sempre o fazia em dias de chuva. Hoje sei que, para quem mora em sítio, em dias de chuva não dá pra cuidar das plantações, da roça, da hortinha...
Ao voltar a si, depois desse momento “deja vu”, eu estava sorrindo. Para muitos pode parecer um pequeno fac-símile da obra de Marcel Proust, mas para mim, são lembranças que vieram à minha mente, saudosas e felizes, de um tempo, hoje bem distante, de minha infância...e como naquele dia, olhei pela janela da cozinha e vi que caía uma chuva serena e contínua.